ILONA BASTOS |
CRÓNICAS E CONTOS |
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN .. A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma.* . Ressoam-me aos ouvidos, como ecos felizes da infância, as palavras da Menina do Mar, que vive numa gruta muito bonita com os seus três amigos: o polvo, que arruma a casa, alisa a areia, vai buscar a comida e faz colares de búzios, de corais e de pérolas; o caranguejo, que é o cozinheiro e faz caldo verde com limos, sorvetes de espuma e muitas outras receitas; o peixe, que não faz nada porque não tem mãos nem braços, mas é o melhor amigo que se pode desejar. A Menina do Mar é uma das muitas histórias escritas por Sophia de Mello Breyner Andresen. E, porque se trata de um texto destinado a crianças, é muitas vezes pela mão desta Menina que somos introduzidos no universo poético de Sophia e nos iniciamos na sua espantosa obra. Uma obra vasta, que inclui dezassete livros de poesia, treze livros de prosa, seis ensaios, uma peça de teatro denominada O Colar e várias traduções de autores clássicos (Shakespeare, Dante, Eurípedes). Jorge de Sena considerou os seus poemas de uma segurança fluente e escultural, e o seu trabalho adquiriu grande projecção internacional, vindo a receber, entre outros, o Prémio Camões (1999) e o Prémio Rainha Sofia de Espanha (2003), a cuja cerimónia de entrega a galardoada não pode comparecer por lhe faltar a saúde. Ontem, a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu, em Lisboa, aos 84 anos de idade. . *Em entrevista dada pela poeta ao Jornal de Letras, em 1997. . Lisboa, 3 de Julho de 2004 |
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Mais recente actualização: 7 de Novembro de 2004