CONTOS DE

ILONA BASTOS

 

CRÓNICAS E CONTOS

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BREVE ADVERTÊNCIA SOBRE NOMES

 

 

Ensinam os livros de psicologia aplicada que devemos tratar as pessoas pelos seus nomes, que o pronunciarmos o nome próprio do nosso interlocutor será por este sentido como uma carícia, imediatamente estabelecendo uma ligação forte, íntima, familiar, entre nós.

Ora eu tenho esta bizarra preferência por desconhecer o nome das pessoas com quem me cruzo no dia-a-dia. Prefiro identificá-las pelo seu sorriso, pelo entoar da sua voz, pelo modular do “Bom-dia” com que me recebem, pela atenção do seu olhar quando lhes falo, pelo acenar da cabeça, pela pausa antes de responderem.

E, assim, aquela pessoa, por todas estas características, tão diferentes de ser para ser, é um indivíduo único no meu universo.

Revendo-o, aparece-me absolutamente singular, embora o seu olhar até possa, por vezes, recordar-me um outro olhar, o seu sorriso, um outro sorriso.

Trata-se, por certo, de uma deficiência psicológica grave da minha parte, como decorre do princípio inicialmente exposto. Encontrar intimidade onde os outros sentem afastamento!

Mas, explico-vos. Logo que me é indicado o nome daquela pessoa, ela deixa de ser única para passar a pertencer a uma categoria, devidamente catalogada, detentora de atributos específicos, quase padronizados!

Por exemplo, a senhora da pastelaria, que me recebe, amável, acolhe o meu pedido de um café e mo serve, quase com carinho, deixa de ser a senhora da pastelaria, que me recebe, amável, acolhe o meu pedido de um café e mo serve quase com carinho, quando chego a conhecer-lhe o nome.

Passa a ser a Dª Anabela! E perde a sua singularidade absoluta para se enquadrar na categoria das Anabelas, dotada de características próprias. Com grandes qualidades, é evidente ( o nome possui a transparência luminosa das asas de borboleta...). Mas tornando-se previsível, uma entre tantas outras, sem mistério, sem a qualidade que fazia dela um ser único.

Tudo isto vem a propósito dos contos que se seguem, em cujo texto não se encontra, nunca, o nome da personagem central.

Não o fiz intencionalmente, como se compreende. Aconteceu. E isso por corresponder a esta tendência (aparentemente imperdoável) de preferir ao nome a ausência do mesmo.

Depois, relendo as histórias à luz que iluminará o meu leitor, recordei o conselho da psicologia aplicada e percebi que a omissão do nome poderia conduzir a um afastamento intolerável do leitor em relação à personagem. O que seria inadmissível!

Pois se o que eu pretendo é precisamente o contrário, ou seja, se a minha intenção é, em cada conto, transportar o leitor ao núcleo da personagem naquele preciso ponto quadrimensional (o espaço e o tempo retratados)!

Optei, então, por atribuir um nome a cada uma das protagonistas. Nomes diferentes em todas as histórias, dado que todas elas tratam de episódios ou experiências respeitantes a diferentes mulheres.

Escolhi os nomes alietoriamente e ordenei-os alfabeticamente.

São uma referência.

Uma referência para quem gosta de nomes, de os pronunciar, de os ouvir, de os sentir como uma carícia...

 

 

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Pintura de Goya

Mais recente actualização: 7 de Novembro de 2004