ILONA BASTOS |
CRÓNICAS E CONTOS |
. Fauna & Flora: O VERDE DA MATA .Floresta Ombrófila Densa . Pode pensar-se, ou
mesmo dizer-se, que o verde é simplesmente verde. Mas
não é. Nunca o verde é simplesmente verde - é sempre
complexa- mente verde. Observem-se as
nuances, as sombras, os brilhos. Os toques de veludo, de
cetim, ou de serapilheira agreste. E como tudo se
reflecte e nos atinge em incontáveis tons que nem o
nosso mais minucioso olhar destrinça. E como nos tons se
adivinham cheiros, mais ou menos silvestres, ou densos,
ou ténues, ou voláteis. E como na sinuosidade das
formas sentimos o gosto, doce ou amargo, ácido ou
acariciante, desta Natureza em festa... Poderia ficar,
infinitamente, a escrever ou pensar sobre minudências
irrelevantes, tais como os tons de verde no arvoredo, ou
o seu aspecto pontilhado ou de pincelada larga
impressionista, de surpreendente brilho ou elegância
realista. Certo que ninguém,
senão eu, retiraria prazer dessas análises minimalistas
e imprestáveis. Mas que fazer? Se tirar eu prazer, é
já alguma coisa! A tantas tarefas me dedico que a
ninguém dão prazer - nem a mim própria, que as executo
pelo sentido do dever... De minudências
vivo. E é bom viver, ainda que de minudências e não de
grandiosidades. Debruça-se, agora,
o meu pensamento de uma perigosa balaustrada. Paro.
Equilibro-me. Arrepio caminho, pois que não desejo
enveredar por ideias menos verdes, menos brilhantes.
Quero reter-me nas sensações minúsculas. Quero deter o
meu olhar nas rugosidades do tronco, distinguir o clamor
das folhas, sentir a suavidade das pétalas. E, assim,
satisfaço-me com o calor do sol, o aroma das flores, a
frescura da brisa... com todo esse supérfluo que é,
afinal de contas, o essencial. Tenhamos saúde, paz
e amor, e que mais podemos desejar? Simplesmente o verde,
tão complexamente verde, tão naturalmente verde, da
mata... |
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Som de Fundo: Erik Satie, Gymnopédie Nº.1
Mais recente actualização: 2 de Dezembro de 2006