CONTOS DE

ILONA BASTOS

 

CRÓNICAS E CONTOS
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Fauna & Flora: MANSAMENTE

..Lampone

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Apreciava, agora, o manso balancear dos pinheiros mansos ao sabor do vento.

Meneiam-se inocentemente. Não por igual, mas por fracções da copa que oscilam em movimentos pendulares e aleatórios das braçadas. E, assim, uma onda suave corre o arvoredo, imprimindo subtil agitação na mancha verde e pacata, sobrevoada por colossos de um branco sujo, acinzentado, descomunais e desordenadas nuvens que o vento empurra para ocidente, ameaçadores mananciais de raios e trovões, ou, simplesmente, despenteados fragmentos do que foi um cão e é agora perfil de rapaz, ou fauno, ou donzela de ingénuo olhar...

Neste momento em que o sol parece brilhar mais intensamente, e que o azul prepondera neste rectângulo-tela que contemplo, já as nuvens não são mais do que abstractas manchas, e o arvoredo recupera a imponência que lhe é própria. Lá vejo os pinheiros mansos a gingar mansamente na aragem, e pergunto-me: como balançarão os pinheiros bravos, esses guerreiros destemidos, altaneiros, que ousam tocar os céus, na companhia das aves?

Ergo-me um pouco e inclino-me, para que desse modo o meu olhar se derrame livremente sobre o verde circundante. E vejo-os, então, aos pinheiros bravos, que a brisa afaga.

Como dançam os pinheiros bravos?! Como se movem?! Sorri, o meu olhar, de espanto: mansamente, ao mesmo doce ritmo que percorre a mata.



Lisboa, 16-09-2006

 



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Pintura de Goya

Som de Fundo: Erik Satie, Gymnopédie Nº.1

Mais recente actualização: 20 de Setembro de 2006