. Fauna &
Flora: MANSAMENTE

..Lampone
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Apreciava, agora, o
manso balancear dos pinheiros mansos ao sabor do vento.
Meneiam-se inocentemente. Não por igual, mas por
fracções da copa que oscilam em movimentos pendulares e
aleatórios das braçadas. E, assim, uma onda suave corre
o arvoredo, imprimindo subtil agitação na mancha verde
e pacata, sobrevoada por colossos de um branco sujo,
acinzentado, descomunais e desordenadas nuvens que o
vento empurra para ocidente, ameaçadores mananciais de
raios e trovões, ou, simplesmente, despenteados
fragmentos do que foi um cão e é agora perfil de rapaz,
ou fauno, ou donzela de ingénuo olhar...
Neste momento em que o sol parece brilhar mais
intensamente, e que o azul prepondera neste
rectângulo-tela que contemplo, já as nuvens não são
mais do que abstractas manchas, e o arvoredo recupera a
imponência que lhe é própria. Lá vejo os pinheiros
mansos a gingar mansamente na aragem, e pergunto-me: como
balançarão os pinheiros bravos, esses guerreiros
destemidos, altaneiros, que ousam tocar os céus, na
companhia das aves?
Ergo-me um pouco e inclino-me, para que desse modo o meu
olhar se derrame livremente sobre o verde circundante. E
vejo-os, então, aos pinheiros bravos, que a brisa afaga.
Como dançam os pinheiros bravos?! Como se movem?! Sorri,
o meu olhar, de espanto: mansamente, ao mesmo doce ritmo
que percorre a mata.
Lisboa, 16-09-2006
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