ILONA BASTOS |
CRÓNICAS E CONTOS |
. Fauna & Flora: ANSIEDADE . Sorbo . Cansada. No entanto,
devo regar as flores antes do jantar. As sardinheiras e
as margaridas da varanda clamam por água, ansiosas e
sedentas, no final de mais um dia, tão quente, de
Verão. São oito e meia da
noite e ainda é dia. Um paradoxo! Seja como for, um
guindaste brilha ao longe, reflectindo o sol poente. O
céu está azul claro, manchado de nuvens brancas. E os
automóveis correm, na estrada, chapinhando a paisagem de
ruídos velozes. Um cão ladra ao longe. A janela, aberta,
deixa agora entrar uma brisa fresca, bendita. Há apenas
uma hora o calor abafado, difícil de suportar, preenchia
a rua. Detenho-me por um
momento. Observo o arvoredo, estático, as aves,
inquietas, em altos e largos voos, uma mosca. Condições
perfeitas para me sentir em paz. O chilreio de um
pássaro sublinha esta ideia. Mas, como sempre,
há em mim uma ansiedade incompreensível, que apenas se
esbate por vezes, inesperadamente. Silencioso, o cão
deixa de rondar as floreiras (o focinho e as longas
orelhas debruçados sobre a terra) e aproxima-se de mim.
Senta-se e segue, com o seu, o meu olhar, pousado no
horizonte. Durante alguns segundos, esperamos o
inesperado.
|
Home.... I ...Dados Biográficos... l ...Poemas... l ....Hai-kai.... l ...Contacto... l .. Crónicas |
Som de Fundo: Erik Satie, Gymnopédie Nº.3
Mais recente actualização: 23 de Agosto de 2006