CONTOS DE

ILONA BASTOS

 

CRÓNICAS E CONTOS
.

Fauna & Flora: ANSIEDADE

.

Sorbo
(Sorbus)

.

Cansada. No entanto, devo regar as flores antes do jantar. As sardinheiras e as margaridas da varanda clamam por água, ansiosas e sedentas, no final de mais um dia, tão quente, de Verão.

São oito e meia da noite e ainda é dia. Um paradoxo!

Seja como for, um guindaste brilha ao longe, reflectindo o sol poente. O céu está azul claro, manchado de nuvens brancas. E os automóveis correm, na estrada, chapinhando a paisagem de ruídos velozes. Um cão ladra ao longe.

A janela, aberta, deixa agora entrar uma brisa fresca, bendita. Há apenas uma hora o calor abafado, difícil de suportar, preenchia a rua.

Detenho-me por um momento. Observo o arvoredo, estático, as aves, inquietas, em altos e largos voos, uma mosca. Condições perfeitas para me sentir em paz. O chilreio de um pássaro sublinha esta ideia.

Mas, como sempre, há em mim uma ansiedade incompreensível, que apenas se esbate por vezes, inesperadamente.

Silencioso, o cão deixa de rondar as floreiras (o focinho e as longas orelhas debruçados sobre a terra) e aproxima-se de mim. Senta-se e segue, com o seu, o meu olhar, pousado no horizonte. Durante alguns segundos, esperamos o inesperado.



Home.... I ...Dados Biográficos... l ...Poemas... l ....Hai-kai.... l ...Contacto... l .. Crónicas

© 2004 - Ilona Bastos - Todos os direitos reservados
Pintura de Goya

Som de Fundo: Erik Satie, Gymnopédie Nº.3

Mais recente actualização: 23 de Agosto de 2006

1